Somente 20% das pessoas que trabalham com tecnologia do Brasil são mulheres.
Nesse dia 8 de março, saiba como apoiar a presença delas no setor!
Você já ouviu falar que algumas profissões ainda são pouco procuradas por mulheres? É o caso dos pilotos de avião, repórteres esportivos, eletricistas, carpinteiros, mecânicos, motoristas, profissionais de construção civil, engenheiros e, claro, profissionais de tecnologia – a área de trabalho da CRM7!
Enquanto o futuro está sendo escrito em linhas de código, as mesmas mulheres que são maioria no uso de jogos, aplicativos, redes sociais e dispositivos digitais ainda não participam ativamente da produção dessas tecnologias.
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), embora a participação feminina em Tecnologia da Informação (TI) tenha crescido em 60% nos últimos seis anos, somente 20% dos profissionais de tecnologia do país são mulheres.
Ou seja:
As coisas até estão melhorando… no entanto, elas ainda precisam se esforçar para conseguir espaço nesse mercado!
Mas, afinal, porque isso acontece?
Existem diversos motivos pelos quais há poucas mulheres atuando na tecnologia.
Uma pesquisa latino-americana chamada Women in Technology, da Michael Page, ouviu presidentes, diretores e gerentes de empresas de tecnologia, entre outros setores correlatos, e levantou dados surpreendentes que ajudam a explicar essa questão.
Um desses dados está relacionado com o baixo número de mulheres líderes na tecnologia. Segundo a pesquisa, a maior parte das vagas de liderança deixam de ser preenchidas por mulheres não por falta de conhecimento ou de experiência necessárias… mas, sim, por falta de candidaturas (já que muitas mulheres, apesar de qualificadas, ainda não se sentem confiantes em aplicar para tais vagas), seguida da própria escassez de posições do tipo.
Em relação à falta de inscrições por parte das mulheres, um fator que realmente atrapalha na hora de se candidatar é autoexigência. De fato, elas ainda aplicam para 20% menos vagas que os homens, pois sentem que precisam cumprir todos os requisitos solicitados. Homens, por outro lado, possuem confiança suficiente para se candidatar a vagas cumprindo apenas 60% dos requisitos.
Segundo o estudo da Michael Page, a porcentagem de mulheres em TI também é baixa em diversos outros países da América Latina além do Brasil (como Peru, México, Colômbia, Chile e Argentina). As razões para isso são muito variadas, incluindo menos oportunidades para posições em nível sênior e promoções, diferença salarial de gênero e falta de flexibilidade para mães que trabalham.
Para além da representatividade, a participação das mulheres nesse mercado também é uma questão econômica. Segundo a pesquisa da Aliança Mundial de Informação sobre Tecnologia e Serviços, se houvessem mais mulheres na indústria tecnológica, cerca de 9 trilhões de euros poderiam ser gerados no PIB global!
Infelizmente, o abismo entre os gêneros começa já na escolha da graduação: embora 60% dos formandos no ensino superior brasileiro sejam mulheres, cursos de engenharia (inclusive de Computação ou de Software) concentram apenas apenas 23,9% delas.
Além disso, muitas mulheres deixam de almejar profissões relacionadas com tecnologia por não terem informações suficientes sobre esse mercado, já que ele costuma ser associado ao universo masculino.
Ainda, segundo dados da empresa PwC e da pesquisa Women in Tech, a falta de representação no setor também reforça o sentimento de que essa área não é para elas. Ou seja: faltam modelos femininos que gerem inspiração e conexão com a área, o que desestimula a participação de mulheres no setor.
Uma pesquisa com mulheres interessadas na área, realizada pela Yoctoo (consultoria especializada em talentos dentro da tecnologia), confirma essa situação: 48% das entrevistadas disseram não ter em quem se inspirar!
Infelizmente, mesmo ao longo da história, apesar de terem contribuído para grandes avanços tecnológicos, muitas mulheres foram ofuscadas e esquecidas dentro do mundo dos computadores.
É o caso de nomes como Grace Hopper (inventora do termo “bug”), Hedy Lamarr (criadora da tecnologia que levou ao desenvolvimento da Wi-Fi, GPS e Bluetoooth), Ada Lovelace (criadora do primeiro algoritmo do mundo, quando sequer existia tecnologia para aplicar o conceito), Frances Allen (criadora de sistemas de segurança digital e matemática famosa por otimizar softwares), Roberta Williams (cofundadora da empresa de games Sierra, hoje conhecida como Activision), Carol Shaw (desenvolvedora de softwares para games, pioneira no aumento gradual da dificuldade em jogos digitais e engenheira da computação da Atari) e Katherine Johnson (cientista da computação que ajudou a Nasa a levar o primeiro homem à Lua).
Hedy Lamarr, atriz e inventora cujas contribuições foram utilizadas para interceptar mensagens durante a Segunda Guerra Mundial, e são aplicadas até hoje em smartphones, Wi-Fi, GPS e Bluetooth.
4 ideias para você apoiar as mulheres na tecnologia
1 – Começar já na infância
Combater a associação de meninos com videogames e computadores e meninas com bonecas e panelinhas é um excelente começo para que mais mulheres entrem no mercado tech!
Essa divisão de brinquedos reflete e perpetua estereótipos de gênero construídos historicamente, passando uma mensagem infundada às crianças, como se tudo o que está relacionado ao cuidado com a família e com a casa fosse “coisa de mulher”, e tudo que está relacionado com máquinas e tecnologia, “coisa de homem”.
A ciência já provou que não há habilidade “natural” para atividades que exigem atenção e afeto e, na verdade, essas diferenças tem muito mais a ver com socialização e educação, que influenciam na forma de ser e nas escolhas profissionais das pessoas.
Assim, não é surpresa que tantas meninas tenham dificuldade de se identificar com carreiras tecnológicas e ligadas às ciências exatas!
Por isso, para tentar compensar séculos dessa construção cultural, diversos projetos buscam impulsionar o protagonismo das meninas em atividades que algumas pessoas ainda entendem como “masculinas”, incluindo aulas de programação, olimpíadas de matemática, enigmas de lógica, oficinas de robótica e desafios com blocos de montar interligados (estilo Lego).
Um ótimo exemplo disso é a Change the Game, maratona de desenvolvimento de jogos criada pela Google, que incentiva alunas do Ensino Médio a ter contato com o mundo da programação – e já contou com mais de 60 escolas públicas e privadas inscritas!
A iniciativa surgiu por que, no Brasil, mais de 50% das pessoas que consomem jogos são mulheres – mas apenas 20% dos cargos de desenvolvedores de jogos são ocupados por elas.
2 – Tornar o ambiente universitário mais acolhedor
Iniciativas que incentivam, acolhem e empoderam mulheres que desejam seguir carreiras na área ajudam a evitar que elas desistam diante dos obstáculos.
Universidades comprometidas com a questão podem oferecer oportunidades contínuas de desenvolvimento profissional especificamente direcionadas para mulheres (como ligas acadêmicas, grupos de estudos e eventos de formação).
Uma outra sugestão é trazer profissionais e professoras da área para conversar com suas alunas, visando compartilhar a experiência delas e ampliar os horizontes de atuação nesse mundo onde os homens são maioria.
3 – Oferecer e incentivar formações direcionadas para elas
Qualquer empresa de tecnologia pode criar possibilidades de formação voltadas para o público feminino, abordando os desafios das mulheres no setor, apresentando as oportunidades no mercado de trabalho e ensinando a aplicar suas habilidades na prática.
Um exemplo é o programa de capacitação profissional gratuita Cresça com o Google (que disponibiliza treinamentos especialmente para mulheres desde 2017), e o programa Mulheres na Tecnologia, também criado pela empresa.
4 – Equilibrar os times e os cargos na empresa
De acordo com o relatório “Mulheres na Tecnologia”, criado pelo portal de negócios do setor TrustRadius, 72% das equipes de tecnologia do mundo possuem uma proporção de uma mulher para cada dois homens. Nos outros 26%, os times contam com cinco funcionários para cada funcionária. A pesquisa também revelou que, durante a pandemia, elas tiveram quase duas vezes mais probabilidade de perder seus empregos do que eles.
Apesar do cenário desfavorável, a boa notícia é que, nos primeiros cinco meses de 2021, 12.716 profissionais mulheres se candidataram a vagas de tecnologia no Brasil (contra 10.375 no mesmo período de 2020).
Assim, oferecer mais vagas exclusivas para mulheres nas contratações pode ajudar a equilibrar o jogo. A Google, por exemplo, já se movimentou nesse sentido: em 2020, 40% dos postos de estágio na empresa no mundo eram ocupados por mulheres, sendo que 24% delas eram negras e latinas.
Segundo a National Science Foundation, mais mulheres já estão considerando carreiras na área tech, mas ainda existem poucas oportunidades para as formandas: apenas 38% delas estão atuando no campo (enquanto os formandos homens seguem com 53%).
Uma outra questão trabalhista que precisa ser pensada é a permanência dessas mulheres dentro das empresas. Segundo um estudo da Accenture e do Girls Who Code, metade das mulheres que trabalham em tecnologia deixa o setor antes dos 35 anos!
Por isso, é fundamental estabelecer trajetórias de carreira para mulheres, para que cheguem aos cargos mais altos das empresas – e se sintam confiantes de que irão conseguir chegar lá.
De fato, dados do IDC mostram que, enquanto 54% dos homens que atuam na área acreditam que receberão uma promoção, somente 25% delas acreditam que isso acontecerá.
Assim, planos de carreira claros, que incentivam mulheres competentes a alcançar maiores posições de liderança, ajudam a enviar uma mensagem poderosa para as meninas do setor!
Além disso, as empresas também podem buscar maneiras de validar a competência e de incentivar a confiança da mulherada (prêmios, homenagens, comunicação interna), ajudando-as a se sentir aptas para se candidatar a vagas de liderança.
A luta por espaço no mundo tech continua
Para Ana Paula Petter, acadêmica de engenharia de Software e colaboradora da CRM7, o principal desafio para uma mulher que atua na área é se sentir confortável para demonstrar opiniões e posicionamentos, além de não encontrar o reconhecimento e o respeito necessário.
Quando questionada sobre que tipo de conselho ela daria para outras mulheres que desejam trabalhar na área futuramente, ela é enfática:
“Se quer trabalhar com TI, faça isso! Nos superamos em tantos aspectos da vida… podemos fazer isso no trabalho também. É apenas mais um desafio para a lista.
Se você for a única mulher e não encontrar um ombro de uma amiga quando começar… trabalhe para ser o apoio da próxima que entrar.”
Já Danielle Martins Vaz, acadêmica de Sistema de Informação e colaboradora da CRM7, avalia que, enquanto diversas empresas estão mudando este “padrão” e abrindo espaço para a mulher no mercado de trabalho, o que traz mais equidade de gênero para o dia a dia, ainda existe uma barreira.
Para ela, atuar em uma área predominantemente masculina “requer, na grande maioria das situações, um maior esforço, conhecimento e qualificação profissional para ter reconhecimento na carreira.” Então, o principal conselho que ela daria para as meninas interessadas é ter determinação para enfrentar as adversidades que virão.
Ainda hoje, a associação entre tecnologia e masculinidade continua a afastar mulheres da tecnologia.
Por isso, enquanto os 20% de mulheres no mercado tech não se tornarem 50%, ainda não podemos dizer que há igualdade de oportunidades ou de atuação no setor.
Assim, o Dia da Mulher segue um lembrete de que precisamos continuar lutando para que mais mulheres desbravem a área tecnológica… e se sintam dignas de ter sucesso profissional e de subir na escada corporativa!
Assim como há diversas outras carreiras que carecem de participação masculina (como as relacionadas com Educação ou Moda, por exemplo), o ideal é que, independente de questões de gênero, as pessoas se sintam à vontade (e capazes) para escolher suas carreiras de acordo com suas habilidades, interesses e sonhos.